segunda-feira, 7 de maio de 2012

ATIVIDADE DOCENTE E O ENSINO SUPERIOR NA CONTEMPORANEIDADE: COMPLEXIDADE E RECONTEXTUALIZAÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL


ATIVIDADE DOCENTE E O ENSINO SUPERIOR NA CONTEMPORANEIDADE: COMPLEXIDADE E RECONTEXTUALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E DA IDENTIDADE PROFISSIONAL.
Arlete Rodrigues dos Santos

         Historicamente a Universidade, é reconhecida como lócus privilegiado do saber. Ser professor no ensino superior hoje envolve o desempenho de papéis, responsabilidades e cobranças que vão muito além do papel tradicional, outrora representado na sociedade, e bem distante do ensinado na academia em sua formação inicial. O docente na atualidade precisa se adequar às características de uma sociedade da informação, democrática, e incorporar novos conhecimentos às suas ações, e  portanto atualmente, o ensino superior tem sido alvo de redefinições, está em transformação.
Segundo Nóvoa (1999), discutir a atividade docente hoje, implica em refletir sobre a necessidade de articulação entre teoria e prática; e para compreender a trajetória profissional vivenciada no contexto da sala de aula, é preciso conhecer o novo perfil no exercício da atividade docente nesse contexto, para então apreender a complexidade de relações vividas nesse cotidiano.
            Os desafios pelos quais a universidade passa hoje, não são novos, e se referem aos seus preceitos baseados na hegemonia, legitimidade e institucionalidade, que a deixavam, como instituição, a margem da sociedade, impedindo-a de integrar, novos princípios e transformações e progressos da sociedade. Porém, o que se observa hoje, é novo movimento: rompimento de barreiras institucionais, incorporação,  da racionalização da especialização cientifica, que impulsionada pelo movimento de profissionalização do magistério, fomenta o processo de reconceitualização da atividade docente.
           Nesta perspectiva, a atenção à docência universitária no limiar do século XXI exige, entre outros aspectos, a compreensão da reconceitualização da docência inserida num processo de redefinição identitária de universidade, para uma nova forma de produzir conhecimento, que aponta para uma necessária consideração da complexidade das questões pedagógicas e didáticas, dando uma nova configuração à relação professor aluno.
              Por outro lado, com o desenvolvimento das ciências, e sua consequente necessidade de especialização, que fragmenta os saberes, delimitando-os profissionalmente em sua formação especifica,encarcera o professor,  pelo conteúdo especifico a ser transmitido, não oportunizando a este as condições favoráveis para a formação humana de seus alunos, característica essencial hoje,para  se fazer ciência. 
              Para Ramos (2010), a reconceitualização da docência universitária, passa também pelo reconhecimento da necessidade e uma formação especifica para este exercício, pois essa atividade é complexa, e não se reduz a questões didáticas pedagógicas, mas uma indissolúvel relação entre ensino e pesquisa.
              As instituições de ensino superior são instituições educativas, ou seja, responsáveis pela formação de seus membros como cidadãos (seres humanos e sociais) e profissionais competentes, responsáveis, e comprometidos, e para tanto o desenvolvimento dos estudantes nas diferentes áreas do conhecimento, e nos aspectos afetivo emocionais.Contudo,além das habilidades profissionais, a universidade, é marcada pela prática pedagógica intencional – tem planejamento e  objetivos próprios.
               A profissionalidade requerida no movimento de reconceitualização da docência universitária necessita, segundo Ramos (2009,p.51),  pode ser compreendida no quadro do movimento de superação da visão de que “quem sabe, automaticamente sabe ensinar”ou de “só quem pesquisa, pode ensinar”, referindo-se a uma profissionalidade docente equilibrada, que supere a profissionalidade restrita, num transitar para o reconhecimento  e desencadeamento de um diálogo entre profissionalidade empírica e cientifica, ou seja, pensar em um novo estilo,uma nova identidade profissional.                    
             Toda e qualquer expectativa de mudança nesse quadro, portanto, só podem ser projetadas sobre o modo de ser e estar na profissão, já que esta não se descola das múltiplas experiências vividas pela pessoa do professor dentro de um processo sócio-histórico determinado (FARIAS 2009).
              As múltiplas experiências do professor-pessoal social e profissional, compõe os significados, que funcionam como um referencial, para atribuir sentido, e organizar sua atividade. Esse repertório de saberes, e experiências, orienta-o na tomada de decisões e  na interpretação do mundo e de como este vive sua profissionalidade.
              Nesse sentido Nóvoa, em sua obra “Vida de professores, editada em 2007, remete-nos a pensar que a questão da profissionalidade, não pode ser compreendida sem os aspectos do sujeito, ou seja, da pessoa do professor, aspectos que ficam  evidenciados, nas relações interpessoais vividas no contexto universitário, e que influenciam , os fazeres e os saberes profissionais.
              Outros aspectos, como a familia,segundo Farias (2009), exercem maior influência sobre a organização da identidade pessoal é  a família, que por seu caráter socializador e  estruturador, se constitui em um elemento de grande importância na compreensão do universo cultural, no qual o professor molda seus valores e concepções, tanto pessoais como profissionais, e que juntamente com o contexto sócio- político,e econômico, participam fortemente, da constituição dos sentidos e significados atribuídos a atividade profissional , ou seja na atividade docente.
                Outro elemento chave é a formação, e que para Farias representa  (2009, p.66), “um dos contextos de socialização que possibilita ao professor reconhece-se como profissional, construindo-se a partir de suas relações com os saberes e com exercício da docência”. Dessa forma, para o autor, as formações têm um caráter dinâmico e processual, demandando ações complexas e não lineares.
                Nesse sentido, para Farias, et al (2009),isso implica em reconhecer que o professor é um ser em permanente constituição,produzido pelas condições sociais concretas do lugar e do seu tempo, e em constante aprendizado, e em continua renovação de valores e saberes que orientam a atividade docente,inclusive no contexto de trabalho, com seus pares.
               Para o autor, é no trabalho, e pelo trabalho que o professor se define como profissional. Dessa forma, a multidensionalidade do processo educacional requer dos docentes decisões complexas e diversificadas, de natureza pedagógica e política, que, em grande parte, extrapolam o espaço escolar. Tais decisões tomam como referência, o conjunto de valores, crenças, hábitos, e normas que determinam o que este grupo social considera importante, assim como os modos de pensar, sentir, atuar, e de se relacionar, assumindo os valores da cultura docente e escolar (FARIAS 2009).
                Com o surgimento de novos espaços educacionais, graças ao avanço tecnológico, a produção de conhecimento e o acesso a ele, têm sido cada vez mais presentes também na universidade, e que acabam por constituir-se em mais um dos desafios para a educação nessa modalidade de ensino, afetando-o diretamente, pois exige formação continuada dos profissionais, e a aquisição de novos saberes, e sua respectiva utilização de forma contextualizada, e inovadora no ambiente de ensino (MASETTO, 2008).
                Portanto, para a autora, não basta ao professor o domínio da sua área de conhecimento e da área pedagógica, mas uma constante atualização dos seus conhecimentos, flexibilização dos currículos (anteriormente fechados), propiciando a revitalização do uso do tempo na academia e práticas profissionais, e a  produção de conhecimentos científicos novos, trazendo-as para o seio da sala de aula, e para o processo de ensino aprendizagem.
               Outro aspecto fundamental é a dimensão política, e o enfrentamento dos problemas vividos pela sociedade, da qual professor e aluno fazem parte, e como tal, precisam engajar-se na busca de respostas e proposições que visem solucionar as questões que permeiam o cotidiano e as relações sociais, buscando formas de inserir a discussão sobre esses problemas nas aulas, assim como, o fomento do debate, e da conciliação da ética e da política, no exercício profissional docente.
                Dessa forma, a transformação da prática docente no contexto universitário só se efetiva na medida em que o professor amplia sua consciência sobre a própria prática, dentro da universidade e fora dela, isto é, pressupõe conhecimento teórico críticos sobre a realidade. Neste sentido, para Pimenta (2009), a diferenciação entre profissionalidade e empregabilidade permite maior clareza no processo de construção dos professores como profissionais, isto é, não basta apenas executar uma determinada tarefa, dentro de um modelo, como se caracteriza a empregabilidade, mas ter capacidade de conceber novas alternativas diante dos problemas com competência e autonomia.
               À guisa de conclusão, finalizamos essa reflexão corroborando  com Pimenta (2009, p.50), no que se refere a identidade profissional do professor universitário: “A profissão está situada em um dado contexto histórico,e responde as necessidades colocadas por ela,  é do confronto com as teorias e práticas, das significações sociais da profissão, que a identidade docente se constrói”, isto é ,o  significado que cada professor, enquanto ator e autor conferem à atividade docente tem origem a  partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, enfim de sua  história de vida, saberes, e anseios. E portanto o avançar no processo de desenvolvimento profissional, através da preparação pedagógica não se dará em separado de processos de desenvolvimento pessoal e institucional.

REFERÊNCIAS

FARIAS, I. M. et alDidática e docência: aprendendo a profissão. Brasília: Liber, 2009.
MASETTO, M. T. Professor universitário: um profissional da educação na atividade docente In: MASETTO, M.T. (org). Docência na universidade. Capinas: Papirus,1998.
PIMENTA, S.G. A profissão professor universitário: processo de construção da identidade. In: CUNHA, M. I. Docência universitária: profissionalização e práticas educativas. Feira de Santana: UEFS Editora, 2009.
RAMOS, K. M. Reconfigurar a profissionalidade docente universitária: um olhar sobre ações de atualização pedagógico-didática. Porto: Universidade do Porto, 2010.

HISTÓRIA DE VIDA: MINHA INCLUSÃO DIGITAL

No começo o medo, a dúvida , a incerteza...modismo?
Depois o desejo, o desafio, a vontade, a ajuda buscada...o interesse ...
o vislumbar das oportunidades de trabalho, de organização do tempo, do fomento da criatividade...
Quanta dificuldades...mas estas como amigas,  potencializadoras do desenvolvimento,e  de estratégias
inovadoras na busca de superá-las...  ensinaram que aprender é sempre possivel, que existem muitos caminhos,que ninguém sabe tudo, é preciso estar aberto, atento, e disposto a começar cada dia um novo tempo - onde o novo é todo dia, no pais sem fonteiras: digital.